Os costumes funerários de outros países podem trazer diferenças ao sepultamento de um brasileiro no exterior, sem contar as questões legais
Normalmente, a morte é encarada com muita tristeza. Por mais que perder um ente querido seja algo impossível de evitar, falar sobre isso é quase uma polêmica, já que trazer o assunto à tona poderia “atrair” coisas ruins.
No entanto, nem todas as culturas encaram o fim da vida da mesma forma e, consequentemente, os rituais de despedidas de cada lugar acabam tendo características muito específicas. A quase proibição sobre a abordagem da morte – e a forma cheia de tristeza de encará-la – é, de um modo geral, proveniente de costumes ocidentais. O adeus do mundo segue formatos diferentes em cada território.
Em vários países da África e da Ásia, por exemplo, a morte é até mesmo vista como algo positivo. É claro que família e amigos ficam tristes quando perdem alguém que amam, mas enfrentam a situação de um jeito mais leve e otimista.
Alegria e festa
Gana
Gana, na África, segue um rito funerário cheio de alegria. Inclusive, o famoso “meme do caixão”, que viralizou nas redes sociais em 2020, vem de uma gravação de um funeral ganense.
Embora o costume de ter homens dançantes levando o caixão seja particularmente comum, apenas os mais ricos têm condições para contratar o serviço. O objetivo é comemorar a vida do falecido e não focar apenas na tristeza de sua morte.
Também acredita-se que a pessoa deve ser enterrada com signos que lembram sua vida. Por isso, os caixões – que demoram duas semanas para ficarem prontos e devem ser encomendados apenas depois da morte – podem ter formatos inusitados, como de frutas, carros e peixes.
México
O Dia de Finados do México é quase o equivalente ao Carnaval do Brasil. A relevância do Dia de los Muertos é tanta que virou um símbolo mexicano e ganhou até mesmo uma animação da Disney, vencedora do Oscar, Vida – A Vida é Uma Festa.
Com festas de três dias, as famílias se reúnem com comidas, bebidas e muita dança para homenagear os entes queridos que já se foram. Altares com flores, fotos e a enigmática La Catrina são feitos perto das janelas.
A crença diz que os mortos voltam à Terra nesse dia para visitar os familiares. Por isso, devem ser recebidos da melhor maneira possível.
Rapidez no adeus
Egito
No Egito, a pessoa deve ser enterrada, no máximo, dentro de 24 horas – e isso deve ser feito antes do pôr do sol. Pela crença muçulmana, não é adequado deixar o corpo longe da terra por muito tempo.
Velas e incenso são acesos no ritual de limpeza para afastar os maus espíritos. O corpo deve ser colocado do lado direito, em direção à Meca, cidade da Arábia Saudita onde nasceu Maomé.
Após a purificação, o cadáver é enrolado completamente em mortalhas, com as pernas amarradas por uma corda. A mão esquerda fica no peito, abaixo da direita.
O caixão serve apenas para transferir o corpo até o cemitério. Quando chega, é enterrado apenas com a mortalha.
Turquia
Na Turquia, a regra das 24 horas e do pôr do sol também se aplica. O corpo é levado por familiares do mesmo gênero, salvo no caso de filhos e cônjuge. A limpeza é feita de três a sete vezes e depois o cadáver é enrolado em panos brancos, amarrados com quatro cordas.
Antes do sepultamento, ora-se o Salatul Janazah, uma oração fúnebre. Participantes do funeral devem fazer três filas horizontais em direção à Meca, separadas por homens, mulheres e crianças. Todos rezam o primeiro capítulo do Alcorão.
Passagem espiritual
Nauru
Os nauruanos acreditam que os mortos viram espíritos. A partir daí, começa a jornada Ebwiyeye. O falecido precisa se rastejar, em direção ao pôr do sol, sobre um pináculo de bordas afiadas, mas sem se machucar. Se as árvores no caminho o capturarem, isso significa que ele fez maldades em vida.
Uma pessoa que não foi boa na Terra é rapidamente reconhecida no mundo dos mortos. Sua punição é o eterno constrangimento.
Haiti
No Haiti, a religião predominante é o Vodu. Após a morte de um haitiano, sua alma é composta pelo gro bonange (anjo bom, força da vida) e o ti bonange (pequeno anjo, essência da pessoa), que fica próximo ao corpo por até nove dias.
Neste período, o ti bonange fica exposto ao ataque de feiticeiros que podem transformá-lo em zumbi. A alma se separa do corpo e passa um ano e um dia vivendo em “águas escuras”. Se neste meio tempo algo der errado, sua alma pode ficar vagando pela Terra e trazer má sorte à família.
Se tudo der certo, a alma é retirada do corpo que está nas águas e colocada em um pote de barro, o govi. A alma é tratada com Deus. Em cerimônias subsequentes, o pote é queimado ou quebrado, liberando a pessoa para viver em paz, até seu renascimento em Lafrik Guiné.
Mas afinal, o brasileiro que morre em outro país deve seguir os costumes locais?
Se a cultura e as políticas do país permitirem, não. É difícil imaginar um brasileiro sendo enrolado em mortalhas, mas isso pode depender das diretrizes do país.
Em alguns lugares, existem cemitérios e casas funerárias que seguem outros costumes. No Brasil, há cemitérios judaicos. Já nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York, há estabelecimentos que seguem os ritos de Gana.
Quando um brasileiro morre no Japão, por exemplo, é quase uma certeza que ele será cremado, visto que o país segue a cremação por questões logísticas, já que o território japonês não tem espaço para enterrar todos os mortos.
O que fazer quando um brasileiro morre no exterior?
Avisar o consulado
Independentemente de como vai ser o funeral, as autoridades devem ser informadas da morte.
Assim, quando um brasileiro morre em outro país, o Consulado Brasileiro da região deve ser contatado o quanto antes.
Registrar o óbito
O óbito pode ser registrado na Repartição Consular da jurisdição do local mediante declaração de um familiar brasileiro, que deve comparecer ao Posto.
A Certidão de Registro de Óbito é feita pelo Consulado, posteriormente transcrita no Cartório do 1º Ofício do Registro Civil do local de seu domicílio ou no Cartório do 1º Ofício do Distrito Federal.
Translado
Se desejado, o corpo pode voltar para o Brasil. Para que a administração do aeroporto autorize o embarque, é preciso apresentar o atestado de óbito, laudo médico de embalsamento ou conservação e autorização para remoção do cadáver concedida pela polícia do local da morte.
Recomenda-se contratar os serviços de uma agência funerária, no país do óbito, que tenha experiência com traslados e que possa se encarregar de todos os trâmites. A empresa estrangeira deve ter contatos com uma funerária brasileira, que se responsabiliza pelo resto do processo quando o corpo estiver no Brasil.
Caso a família não tenha recursos, o sepultamento acontece no exterior, seguindo os termos da legislação local, a cargo do Estado estrangeiro.